Egocentrismo é autoengano
Edição #4 do quadro “Vivência do Centro” no Canal Senda
Após ter falado sobre o falso centro como uma alusão ao ego, acho importante refletirmos sobre a atitude autocentrada, ou seja, a atitude que coloca o “eu” acima de qualquer coisa. É um dos principais mecanismos fortalecedores do ego, empregado, muitas vezes, sem percebermos. Colocamos a imagem do eu tanto no alto quanto lá embaixo: ou como um rei magnânimo ou como alguém insignificante pisado por todos. Nas duas atitudes, existe o egocentrismo.
Quando alguém tem uma atitude de rei, é fácil notar como se porta de forma arrogante como a figura central que se destaca perante os outros. Com essa atitude, quanto mais alto a pessoa se coloca, maior é a queda.
A outra faceta do egocentrismo é colocar-se na posição mais baixa e acreditar ser o bode expiatório do mundo, o injustiçado. Talvez você já tenha tido alguma experiência na qual você achava que as pessoas estavam falando ou fazendo algo contra você, talvez um complô e, mais tarde, você descobre que o comportamento delas não tinha nada a ver com você. Vamos observar o que a nossa mente faz: ela vai ligando um dado a outro, formando uma hipótese, então começa a acreditar sem nenhuma dúvida nessa narrativa que ela própria criou. Quando contamos a nossa versão da realidade para outras pessoas e elas concordam com essa narrativa, isso se torna uma verdade incontestável para nós.
Perceba como somos rodeados de fatos fictícios: as pessoas jogam teorias no ar e quando um grupo de pessoas passa a apoiar tal ideia, ela vai ganhando proporções cada vez maiores. São os famosos “fake news” de hoje em dia, os quais as pessoas acreditam, vão espalhando para os outros até que, mais tarde, surge a constatação de que era mentira.
Igualmente, as teorias científicas que passam a ser refutadas quando surge uma pesquisa mais completa que invalida a anterior. Agora, pare para pensar: quanto daquilo que você toma como verdade pode ser algo fictício? A proposta é justamente olhar para o poder mental de criar ou aceitar uma ideia e transformá-la em uma verdade central. Muitas das nossas verdades internas acabam sendo um transtorno em nossas vidas, como um chip implantado em nossos cérebros que nos autossabotam.
Um exemplo é a negatividade, a tendência de ver algo ruim em tudo. Não que as coisas sejam perfeitas, mas notar somente os aspectos negativos das pessoas e situações é um fenômeno de quando a nossa mente escolhe centrar-se nos pontos falhos e ignorar o que há de positivo. É uma capacidade incrível de foco mental, mas usado no sentido negativo: o de encontrar defeitos. Nós passamos a acreditar na realidade como algo tenebroso e criamos condições para o surgimento de emoções nocivas.
Outro exemplo é a atitude de vitimismo, que promove a ideia de que o mundo é injusto e que alguém está em uma posição desfavorecida. Veja bem: existem atos humanos falhos, agressivos, sem compaixão, mas essa não é a norma da humanidade. Nós temos um potencial imenso para a destruição, mas também para a harmonia. Em quê você escolhe focar? Há pessoas prejudicando o meio ambiente, maltratando uns aos outros… Certo, mas o que você faz em relação a esse fato? Vai incentivar uma comunicação em massa na internet para viralizar, para todos ficarem revoltados e gerar mais negatividade? Ou vai fazer algo no sentido positivo, tomar uma atitude em prol de uma ação justa?
Quando você espalha uma notícia negativa para gerar impacto, a consequência é negativa. Você alimenta a noção de algo contra algo, uma linha imaginária do bem contra o mal, com a imagem implícita de que uma das partes está do lado da verdade enquanto a outra é inerentemente deplorável. Quem escolhe ficar do lado de lá seria o lado ruim da humanidade, enquanto os que escolhem ficar aqui, o lado bom. Essa ilusão esconde o fato de que a humanidade é uma só.
Trata-se de uma estratégia de inversão psicológica: a sua parte estava desfavorecida, mas com a força dos argumentos, passa a ser superior ao outro. Essa atitude é uma expressão da mente autocentrada: fortalecer o ego por meio da ideia de que “eu estou do lado certo”. Entenda que o ego promove uma atitude fragmentadora, que distingue qualidades e que diz: fico com isto e reprovo aquilo. O ego é centrado em meias verdades, alimentando preferências e partidarismos. O vitimismo é uma atitude centrada na distinção, uma vez que reforça fronteiras ao invés de liberá-las.
A proposta aqui é adotar uma atitude unificadora, harmonizadora. Ao invés de ser contra algo, que seja pró de um movimento edificante, que direciona ao invés de fragmentar. Ao invés de apontar defeitos, sugira soluções. Isso é ter uma atitude funcional. Dentro da lei de causa e efeito, esteja certo de que é o tipo de atitude alinhada com melhorias em nossas vidas e no mundo.
Marco Moura
https://marcomoura.com
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