Faça as pazes com a mente antes de meditar

A nossa mente é dualista. Para discernir entre uma coisa e outra, ela separa e compara. É por meio da comparação que ela percebe as qualidades opostas e direciona suas preferências – gosto disso e não gosto daquilo. Como resíduos dessa oposição, surge a tensão entre o que queremos e o que não queremos: temos um dever a fazer, mas preferimos relaxar e fazer outra coisa; sustentamos a moralidade, mas nossos desejos não têm filtros; nosso coração quer seguir uma direção, mas a sociedade nos impõe outra. Assim, aprendemos a viver com a contrariedade, a ter os nossos desejos suprimidos pelo dever. Aprendemos o controle. 

O controle

Quando buscamos uma técnica como a meditação, muitas vezes, pensamos que a proposta é nos controlarmos ainda mais e de uma maneira mais eficaz. Qual o jeito de se sentar, como manter a coluna, como respirar, como se abstrair dos pensamentos… Queremos que alguém nos diga o que fazer, que nos passe a fórmula de como controlar os pensamentos, dominar os nossos impulsos e fazer a mente finalmente obedecer às nossas ordens. 

Note como essa ideia de restringir a mente é castradora. Precisamos incentivar o potencial positivo da mente e não oprimi-lo. Sim, existe o modo correto de como se posicionar e como fazer a meditação, mas a grande questão é a atitude em relação a essas instruções, a atitude em relação à própria mente. Se você considera a mente e os pensamentos um problema a ser resolvido, a meditação será uma prática punitiva. Em uma sessão de prática, você ficará tenso, brigando com a sua mente para soltar o pensamento e voltar para o momento presente, você ficará brigando com o seu corpo para voltar à postura alinhada. Enfim, um momento de tortura. 

A mente como uma aliada

Por outro lado, você pode pensar na mente como uma aliada. O que eu posso fazer para ajudar a mente a ter um foco melhor, a ficar mais confortável no silêncio? Como posso contribuir para o meu próprio bem estar mental? 

Percebe a diferença na intenção? Se você encara a mente como um problema, ela é como um inimigo que você quer oprimir; se você a encara como um aliado, você quer ajudar a fortalecer suas boas qualidades. Essa intenção é o ponto de partida fundamental para o sucesso na meditação. É a atitude que cria as condições propícias para a prática: um estado mental tranquilo, relaxado e lúcido. 

Ao realizar as instruções da meditação, faça de um modo gentil e respeitoso em relação à sua mente. Ninguém se sente confortável em um ambiente hostil, portanto abrigue a mente em um corpo relaxado. Pense em seu corpo como um receptáculo para a mente, que se molda a ele como a água se molda ao copo. Considerando isso, que a mente toma a forma do corpo, pense no sentido de influência: se quero ajudar a mente a relaxar, vou relaxar o corpo; se quero ajudar a mente a se equilibrar, vou alinhar o corpo; se quero ajudar a mente a se pacificar, vou suavizar a respiração. Todas as indicações da postura para meditar contribuem para esses objetivos. Nada é uma obrigação, uma imposição – são elementos que auxiliam a meditação.

Marco Moura

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