A verdade não existe por si mesma
Filósofos, cientistas, religiosos: todos em busca da verdade. De alguma forma, cremos em uma verdade absoluta que transcenda opiniões e que seja aplicável a todos. Buscar a verdade parece ser a coisa mais louvável a se fazer. No entanto, quanto mais perseguimos a verdade, mais a afastamos, pois vamos criando conceitos e teorias, produtos de nossa própria elaboração conceitual. Ou seja, uma verdade pessoal. Seguimos concretizando nossas suposições, reunindo informações e fechando conclusões. A verdade não seria, ao invés disso, uma abertura?
Como dizem os hermetistas, toda verdade é meia verdade. Ela é relativa à sua própria estrutura. No momento que começamos a deliberar sobre algo, convencionamos um ponto de vista e uma estrutura de ideias a ser usada como referência. A verdade como a conhecemos é mero produto do pensamento.
Será que a verdade que os grandes mestres espirituais transmitiram também são relativas? Certamente! São abrangentes, mas relativas ao reino humano. Os mestres falam de verdades relativas à condição humana. Buddha, por exemplo, fala do sofrimento criado pela mente e da sua libertação; Jesus mostra a aplicação do amor na conduta humana; Lao Zi demonstra como a verdade humana não é a verdade do Dào (o absoluto), mas que podemos nos sintonizar com ela por meio da ação abnegada. Todos eles demonstram a nossa limitação frente à realidade absoluta e nos fornecem modelos de conduta coerentes com a nossa condição existencial humana.
Sugiro que, mais importante do que a busca da verdade, seja o modo como respondemos aos acontecimentos da vida, pois é esta resposta que define o nosso posicionamento e que tece a nossa realidade. O que colhemos são os frutos das nossas escolhas: causa e efeito. Ainda, a resposta externa é mera fachada da nossa autenticidade interna. O que acontece em nosso mundo interno é que conta. Esta é a verdade, a nossa verdade.
Marco Moura
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