Metta, o incondicional

Pela lei de causa e efeito, podemos reconhecer claramente o mal que criamos em nossas vidas e em nosso entorno; o sofrimento que criamos em nós mesmos e em nosso meio devido ao egoismo. Sabemos muito bem que o egoismo é o ingrediente da maldade e do sofrimento, pois faz gerar a cobiça e o ódio, forças capazes de nos fazer perder o bom senso e ferir aos outros.
Admitindo esse polo do fato, fica fácil reconhecer que a prática do desapego, da tolerância, da amorosidade e da compaixão pode nos levar ao polo oposto do não-egoismo e, portanto, da liberdade e do bem estar. Com Metta (amor benevolente), podemos criar um ambiente de felicidade.
Com o mínimo de clareza mental, reconhecemos tudo isso facilmente... Reconhecemos teoricamente. Faz todo o sentido, mas parece uma utopia. Não faz parte da realidade. Olhamos para nós mesmos e sabemos que somos interesseiros, astutos, maldosos, que não somos tão dignos assim. Amor incondicional passa longe de ser algo praticável.
Sim, nosso sofrimento, nosso ódio e nossa inimizade surgem da discriminação. Porém, o que fazer? O mecanismo da mente é discriminatório. Fazemos reconhecimentos de uma coisa em comparação a outra, destacamos o objeto do todo para identificá-lo, damos nomes e rótulos. Como seres tridimensionais, o que temos à disposição é um aparato limitado: um corpo físico que tem sua estrutura própria, sua fisiologia, seu cérebro limitado... Sofremos influência do meio, sentimos prazer e dor, as pessoas nos ferem e não toleramos muito sofrimento. Queremos paz. Como posso amar incondicionalmente e abraçar a todos quando há pessoas que me trazem dor? Como um ser condicionado pode manifestar um sentimento incondicional?
De fato, nossa mente, nossas emoções e nosso corpo são limitados e condicionados. Nossa estrutura perceptível é tridimensional e estamos falando de um sentimento que não faz sentido nessas condições. Porém, isso não é tudo o que somos. Nosso corpo físico não é nosso corpo real, nossos pensamentos não são a mente real, são apenas o efeito perceptível dos movimentos sutis da consciência multidimensional.
Nós enxergamos a nossa realidade limitada e a lógica nos mostra que aquilo que percebemos é resultado de operações fora da nossa compreensão. A causa é oculta aos olhos do efeito. Na observação da nossa realidade limitada - de nosso corpo, de nossas sensações, de nossos pensamentos - algo está em atividade longe dos nossos sentidos. Não podemos tocar nem ver, mas está acontecendo. Há uma observação por trás, em silêncio profundo. Atente ao seu verdadeiro ser, ao ser multidimensional. Está no plano causal, não no plano dos sentidos. Fundido à lei cósmica, inabalável como a sabedoria transcendente. Da mesma forma que no plano condicionado não faz sentido o amor incondicional, no plano causal, a única coisa que faz sentido é o amor incondicional. Metta é o ingrediente cósmico da vida e da prosperidade.
Se em nossa existência só podemos notar os efeitos, vejamos a coerência dos efeitos. Algo prospera que não tenha amor? O egoismo produz algum fruto realmente benéfico e libertador? Metta é o ingrediente da vida. Só se vai de encontro ao Dào através da não-dualidade, que é o amor. A densidade kármica que nos obriga a renascer no plano da matéria só é superada quando abandonamos a cobiça, o ódio e despertamos para a realidade do amor.
É fato que por ignorância caminhamos para a fogueira da perdição acreditando que se trata do fogo divino, na crença dualista de que o bem é o contrário do mal, que Deus é o contrário do diabo. Isso só nos torna excludentes e partidários, mais fragmentados e mais odiosos. Em Metta, não existe distinção. Rótulos estão na mente e no coração do homem. Atente à observação pura e objetiva, livre de rótulos, livre de nomes. Liberte-se do ser tridimensional durante a observação. Algo se manifestará, algo sem nome, mas que se você permitir a sua fluência, quem sabe possa chamar de Metta.
Marco Moura

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