Retornando ao Centro - bate-papo com o Mestre

Fechando o tema “Retornando ao Centro”, tivemos a alegria de receber o Mestre Zhihan, abade do Templo Tzong Kwan, para um bate-papo sobre a aplicação dos ensinamentos em situações cotidianas. O texto que segue é uma organização do que assimilei das sábias e compassivas palavras do Mestre, seguida da conclusão relacionada ao nosso tema.

Mestre Zhihan

Tipos de meditadores
Observando as facilidades e dificuldades que cada um experimenta com a meditação, podemos dividir os meditadores em dois tipos: os sonolentos e os agitados. Os sonolentos costumam ser pessoas envolvidas em trabalhos corporais que, ao parar e sentar, têm dificuldade para manter-se acordados. Os agitados mentalmente, que representam a maioria de nós, são pessoas envolvidas em atividade mental excessiva que, ao sentarem, não conseguem aquietar a mente. São pessoas ansiosas que costumam ficar planejando o que fazer. Seu desafio é aprender a focar no presente, pois deve estar claro que não há o que fazer no futuro, somente no agora. A transformação se dá no presente.

Dicas para meditar
Para esse tipo de pessoa, um aspecto positivo que acontece durante a meditação, embora não muito cômodo, é que a mente fica acordada, alerta. Mesmo no vai-e-vem de pensamentos, tendo que retornar constantemente a atenção para a respiração, é possível perceber o que está acontecendo em suas mentes e isso é bom. Com persistência, a dispersão diminui. O importante é nunca desistir e, além disso, prezar pela qualidade ao invés da quantidade. Por exemplo, se fizer 10min de meditação bem feita e após isso a mente ficar agitada, é melhor não continuar por mais tempo, pois isso seria um fator desestimulante para a prática. Melhor é aumentar o tempo de permanência sem pressa. Com isso, ganhamos confiança. A meditação caminhando pode ser uma boa alternativa. E para evitar empecilhos para a prática, lembre-se que o melhor horário para a meditação é: quando tiver tempo.

Ninguém muda ninguém
Em nossa rotina diária e, principalmente no trato com as pessoas, devemos lembrar de voltar a atenção para a respiração. Antes de entrar em desentendimentos, lembre-se que não podemos mudar as pessoas – elas são quem são. Não espere perfeição de ninguém. Ao ficar com raiva de alguém, pense: alguém tem o poder de me trazer raiva? Não! Alguém pode me trazer paz? Também não! Nós não temos poder para mudar ninguém, somente a nós mesmos. As pessoas não são causas (de nossa felicidade ou aflições), são condições. A causa está em nós mesmos. Se permitimos que alguém nos cause raiva ou contentamento, estamos invertendo os papéis. As expectativas que depositamos nos outros são ilusões. Quando temos muitas expectativas, é certo que o sofrimento será grande; se diminuímos as expectativas, o sofrimento reduz. Se não nutrimos exigências sobre os outros nem expectativas sobre as situações, o que vier a acontecer a mais é lucro. É mais inteligente assim.

Mude a si mesmo
Cultive a si mesmo, pois é daí que parte a transformação. Pratique para incrementar a calma e restabelecer o controle sobre si mesmo. Somente assim podemos promover mudanças e conquistar a sanidade mental. Caso contrário, ficamos loucos. A definição de loucura é: fazer sempre o mesmo esperando resultados diferentes. Isso não acontece. Tudo é energia, todos emitimos vibrações. Você conhece pessoas que alteram o ambiente para melhor ou pior quando chegam, não é? Se você projeta expectativas nos outros e nas situações, está emitindo sinais ao universo: “hei, eu sou insuficiente, eu preciso que alguém me faça feliz!” Quando você muda seus hábitos e padrões, a sua frequência muda e você começa a atrair pessoas e situações consonantes com esse tipo de energia. Pessoas negativas começarão a se afastar. Quando você trabalha para fortalecer a sua energia positiva e diminuir a dependência externa, começam a ocorrer mudanças ao seu redor.

Relações humanas
Pessoas com quem convivemos de perto podem ser mais desafiadoras. Os pais, por exemplo, são pessoas que não escolhemos, mas que têm afinidade kármica conosco – eles estão presentes em nós. As características que eles têm que nos incomodam, certamente também a temos e, cada vez que somos reativos a isso, estamos perpetuando essa energia. Ao reagir, estamos herdando o que nos incomoda. Por que temos que reagir ao comportamento deles? Por que nos vemos na obrigação de responder na mesma altura?

Atitude nas relações
Um escudo protetor que temos ante a negatividade contagiante das pessoas é lembrar de colocar a língua no céu da boca e observar a tempestade calmamente. Não temos que concordar, discordar, aprovar ou esperar aprovação. No fundo, sempre esperamos que as nossas qualidades sejam notadas e que sejamos reconhecidos pelo ser formidável que somos. É inútil esperarmos reconhecimento alheio. Estaremos emitindo sinais ao universo de que somos insuficientes. Sentir-se bem por si mesmo é o suficiente.

Tratar com seres humanos
Pessoas não são nada mais que seres humanos. Ninguém tem etiquetas coladas dizendo “pai”, “mãe”, “isso” ou “aquilo”, nós é que colocamos. Da mesma forma como colocamos, podemos tirar e, com isso, remover toda a carga que esses rótulos trazem. São apenas pessoas que merecem respeito e aceitação pelo que são. Após remover a etiqueta e aceitar as pessoas, muitas vezes, precisamos definir demarcações para evitar conflitos. Como os pais têm uma função kármica no nosso desenvolvimento espiritual, a nossa atitude deve ser a de estabelecer uma profunda amizade como humanos baseada na aceitação, amor e respeito. Muitas vezes, é preciso um afastamento para dar uma limpa (reset) na relação já carregada. Deixar o envolvimento emocional de lado para haver uma comunicação mais verdadeira e objetiva. Podemos usar frases-lembrete como uma espécie de mantra para evitar expectativas, projeções e desentendimentos desnecessários. Deixando claro à outra pessoa de que você a respeita e que também quer seu espaço respeitado, que o seu modo de ser é assim e assado e que isso não significa que você a esteja rejeitando, certamente o convívio se torna mais harmonioso. É um lembrete para ambos sobre a qualidade da relação.

Conclusão
Concluindo, essa abordagem do Mestre Zhihan nos remete a sermos a fonte de nossa plenitude. Reconhecendo que o potencial criativo do universo está presente em nós e que quando o colocamos em prática a partir da compreensão da lei de causa e efeito, podemos promover grandes transformações a partir de uma simples mudança interna. O centro de comando da nossa realidade está em nós. Não invertamos as posições, não procuremos o centro do lado de fora, não entreguemos a chave de nossa felicidade às circunstâncias externas. Como uma lanterna desregulada não pode iluminar adequadamente, trabalhemos com afinco para regular o foco da nossa luz interna de modo a resplandecê-la ao nosso redor!

Marco Moura

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