Subalternos

Caminhando pela cidade de São Paulo, pessoas de variadas etnias, culturas, ideologias, religiões, movimentos pró-isso ou contra-aquilo, cada um do seu jeito, procura expressar os seus valores. Em meio a tanto barulho e tanta agitação, as pessoas buscam alternativas para serem ouvidas - não através da fala, mas da sua atitude, sua roupa, sua máscara social. Parece que todos têm suas posições e opiniões definidas, gostos e aversões, enfim, todos têm algo a dizer, mas de autêntico, quem é que expressa alguma coisa? Todos só dão respostas condicionadas. 

Primeiro de tudo, as pessoas adotam um mecanismo reativo em relação ao seu meio e, com isso, agem condicionadas por ele - como fantoches. Todos nascemos em um meio onde incorporamos o modelo local, a linguagem, cultura, padrões morais, etc. A estrutura está pronta, ela toma forma dentro de nós e então escolhemos qual o nosso papel no meio disso tudo. Você pode ser a favor ou contra os modelos vigentes, seja como for, cada um se posiciona dentro dele debatendo-se e lutando para estabelecer o seu lugar. Quando se incorpora o sistema, é assim: ao mesmo tempo que você o usa, é submisso a ele. Quando você faz suas escolhas com base nas alternativas do sistema, você entra no seu jogo. 

As pessoas não sabem se expressar porque são reativas e, quando reagem, não reagem por si mesmas, mas através do conteúdo herdado do meio. Quem é que se conhece à parte do seu condicionamento herdado? Quem é que pode responder por si mesmo e não pelo seu conteúdo aprendido - pelo que diz a sua religião, seus pais, seu governo, suas lideranças? Mesmo que você não concorde com o que dizem, você usa o modelo de pensamento existente. Você reafirma o que dizem através da oposição. 

Existem muitos movimentos de revolta onde as pessoas não enxergam que o “ser contra” abastece o “ser a favor”. É o equilíbrio necessário para a sua subsistência. O sistema não pode sobreviver somente com um lado, o louvável; ele precisa do outro lado, o difamado. Enquanto a pessoa que quer se libertar do sistema viver sob o domínio da reatividade, cada ato seu fortalece a sua prisão. 

A alternativa apropriada não está em uma listagem, não está naquilo que já está pronto. Está longe do condicionamento, longe das ideologias, longe das palavras. É autêntica e, por isso, não está revelada. Em meio a tanto barulho, é preciso silêncio... 

Marco Moura

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