Optando pela Não Reatividade (parte 1 - os fatos)
A reatividade ocorre em um cenário de conflitos, de forças em choque entre si. Somos reativos, a sociedade é reativa. Vemos conflitos em todo lugar: guerras entre países, estados, políticos, grupos rivais, famílias, entre os próprios familiares, entre casais, pais e filhos e uma guerra dentro de nós mesmos. Nós reagimos diante das circunstâncias do nosso meio quando nos sentimos invadidos e temos algo a defender. Temos linhas divisórias imaginárias que limitam o nosso espaço (eu e meu) e se alguém ultrapassa a fronteira sem o nosso consentimento, entendemos isso como uma agressão e a guerra está lançada. Nossas armas, além das tangíveis, são os argumentos (se queremos ser plausíveis) ou as chantagens, ofensas, calúnias, etc (se apelamos para a violência).
Por que somos tão reativos? Quero dizer: por que a todo momento, diante dos fatos do cotidiano, nós temos que rebater com uma opinião, reagir com uma emoção, um pensamento, uma fala, uma ação? O nosso mecanismo reativo é impulsivo, automático – não precisamos ter consciência dele para que ocorra – pode ser muito sutil. Nem mesmo precisamos externá-lo para que ele ocorra; basta a mente.
Por que a mente opera de modo reativo? Por que ela reage automaticamente aos acontecimentos do meio e aos acontecimentos internos? Nós reagimos àquilo que consideramos real e que de alguma forma possa nos afetar, positiva ou negativamente. Diante de um evento qualquer, nós verificamos como fica a nossa situação perante aquilo. Como isso me afeta? É bom ou ruim? Se me afeta de modo bom, reajo de forma receptiva, se me afeta de modo ruim, reajo de forma intolerante. Seja como for, o ponto de referência sou eu, o meu ego. E o que eu busco satisfazer, por meio da reatividade, são os interesses do meu ego. O ego sabe que precisa fazer algo para conseguir o que quer.
A partir das nossas experiências, sempre concluímos que o ‘eu’ e a realidade externa são fenômenos distintos. Estou inserido em um sistema dualista onde existem muitos outros indivíduos semelhantes a mim que também buscam os seus próprios interesses. O meio às vezes me oferece oportunidades, às vezes me oferece riscos. No meio disso tudo, tenho que buscar os meus interesses, a minha sobrevivência. A partir da visão do ‘eu’, tenho meus próprios conceitos, opiniões, pensamentos, emoções, anseios e objetivos. Tenho um universo de entendimentos daquilo que eu prezo e que me faz bem. As situações que me fazem bem devem sobressair-se sobre as que me fazem mal, portanto, enquanto eu alimento desejos que impulsionam no sentido do prazer, também alimento ideias de insatisfação, de condições desfavoráveis. Por isso, vivo em uma luta com o meio, disputando para firmar o meu lugar no mundo. Dessa forma, é inevitável que a minha atitude operante seja a reatividade.
Uma pessoa reativa é inquieta, assustada, sem paz. Chamamos esse estado de ansiedade. Diante de um pensamento qualquer, ela responde com uma série de eventos internos – preocupações, medos, raiva, etc – que se convertem em combustível para mais reatividade. Ela não confia no curso das coisas, portanto PRECISA fazer alguma coisa, mesmo que essa coisa seja ficar alerta pensando sobre os perigos para não ser pega desprevenida. Obviamente, com essa atitude, ela atrai situações de perigo real. Uma simples ideia criada pelo próprio indivíduo pode disparar uma série de reações emocionais que nutrem essa ideia e a tornam real.
A reatividade é inevitável diante de um conflito; o conflito é inevitável em uma situação onde exista um indivíduo com seus próprios interesses (o ego) e um meio que pode ou não lhe favorecer; agora, o ego é uma realidade inevitável? Desde sempre acreditamos no ego sem questioná-lo, pois ele faz todo o sentido para a mente. “Penso, logo existo”. “É óbvio que exista este corpo; eu sinto, eu penso, eu sei”. Sabemos a partir de onde? A partir da mente, que é inseparável do ego. Mas o que há por detrás?
Marco Moura
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