De volta à origem

O ideograma central da filosofia taoísta, 道 (Dao), segundo Lao Zi, está além de qualquer definição. Sua tradução comum é “caminho”. Há o caminho do indivíduo, há o caminho do céu, o caminho da terra, o caminho do universo; mas em essência, o caminho é um só. Não ache um sentido lógico para essa afirmação, do contrário, estará limitando o seu sentido original.

Para o senso comum, o caminho desejável é sempre para frente, movendo-se em direção ao futuro. O caminho comum é o movimento do progresso. O passo para trás é condenado como um retrocesso. No decorrer deste caminho, inevitavelmente nos deparamos com obstáculos. Ao caminhar para frente, parece que algo importante fica para trás. Uma impulsão desequilibrada leva a um passo seguinte mais desequilibrado, pois a impulsão inicial é o seu fundamento. O desvio de alguns milímetros no início pode significar um desvio de quilômetros no decorrer da jornada. Idealisticamente, somente um veículo perfeitamente balanceado garantiria o sucesso da jornada. Acontece que no Dao, existe um paradoxo: a perfeição tem raízes na imperfeição e o equilíbrio tem raízes no desequilíbrio.

Ao investigarmos o caminho comum, verificamos que ele é sustentado por conceitos dualistas e ambíguos. Há valores enaltecidos: progresso, evolução, o bem, o belo, o justo, o forte… E valores deploráveis: retrocesso, involução, o mal, o feio, o injusto, o fraco… Ninguém quer o caminho deplorável, mas veja: todos os valores apoiam-se no seu oposto. Não há progresso sem retrocesso. Toda a filosofia do Dao remete ao aspecto que julgamos como inferior como sendo o poder oculto do sábio. Enquanto o sábio retrocede, colocando-se atrás dos outros, o Dao o coloca à frente; quando o sábio reconhece a sua fragilidade, o Dao lhe confere força; quando o sábio admite humildemente nada saber, o Dao lhe confere grande sabedoria. Aos olhos comuns, o Dao atua de forma muito misteriosa!

O sábio realmente segue um caminho incomum. Ao seguir esse caminho alheio ao progresso, como é possível que ele ao mesmo tempo progrida tanto? Porque ele nunca deu um passo para fora do caminho autêntico. Para o sábio, só existe o aqui e agora. Ele não caminha em direção a um destino adiante, ao invés, permanece em sua origem. É como se ele permanecesse não nascido, não crescido, não avançado. Nessas condições, permanece como um feto, sendo nutrido eternamente pela sua mãe, o misterioso Dao.

Marco Moura

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