O Centro em Equilíbrio (parte 3/4)
Em nossas práticas de cultivo interior, não abordamos a espiritualidade em termos de desenvolvimento gradual. Não é como se fôssemos seres inferiores que precisam alcançar um alto grau de desenvolvimento espiritual, passando então a ter acesso a um conhecimento transcendental que está distante de nós. Como seres humanos, não somos diferentes dos grandes mestres como Buda, Cristo, Lao Zi, etc. Os mestres simplesmente aceitaram a sua realidade presente e é nessa dimensão que habitam. O presente está aqui, qualquer um tem acesso a ele. Então por que ficamos presos aos condicionamentos do passado ou às expectativas projetadas no futuro? Por que não permanecemos aqui e agora se sabemos que tudo aquilo que é realmente valioso está no momento presente? Por que vivemos buscando fora, dando atenção a pensamentos periféricos que nos tiram do nosso centro? Se estamos em uma situação cotidiana, seja trabalho, estudo, situação familiar ou outra qualquer, usamos isso como desculpa. Precisamos resolver algo “importante”. Porém, quando estamos em nosso quarto ou no templo, dedicando-nos ao cultivo interior, a nossa mente continua perseguindo os assuntos externos. Isso significa que esse mecanismo é um hábito arraigado.
Inconscientemente, a permanência no momento presente vai perdendo a importância. Qualquer pensamento parece merecer mais a nossa atenção do que observar o momento. Veja a respiração, por exemplo, que nos nutre com energia vital (chi). Temos acesso a ela a todo momento, de forma consciente ou inconsciente. Ela é o lembrete do momento presente quando respiramos de forma consciente. Veja como ela é importante: experimente parar de respirar por um minuto. Você sentirá falta do ar de tal modo que poderá abrir mão de qualquer riqueza simplesmente para poder respirar. Então você acha que durante a meditação, a respiração é menos importante do que o pensamento? A respiração nos traz para o momento presente, o pensamento nos tira dele. É prioritário voltar conscientemente ao momento presente. O acesso a toda a sabedoria está aqui, longe do emaranhado artificial de conhecimentos. O refúgio de qualquer conflito está aqui, longe da complicação mental.
Apenas permaneça aqui, presente. Deixe os assuntos da mente do lado de fora durante a sua prática interior. Se ao terminar, quiser pegá-los de volta, você tem esse direito. Mas acima de tudo, reserve-se esse momento e reconheça a importância de estar aqui agora. Leve isso para a sua vida diária. Após terminar a sua prática interior, mantenha o espírito da presença. Se após a prática, voltarmos ao automatismo mental com todos os hábitos nocivos que inconscientemente alimentamos, a prática terá sido em vão. É preciso incorporá-la. Vivenciemos o centro, lembremo-nos dele quando percebermos que estamos nos afastando e indo para a periferia onde está todo conflito. O centro está aqui e é o nosso refúgio. Tudo de mais importante está aqui. Respiremos…
Marco Moura
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