O presente não é bom o bastante?
A mente é inquieta, busca sempre algo para se distrair: música, internet, celular, um passatempo qualquer ou se entretém em seus próprios pensamentos. Acredita-se que a distração seja algo útil, pelo menos é melhor do que ficar sem fazer nada. Ficar parado incomoda, o silêncio incomoda, o presente incomoda. Afinal, o que há de tão ruim com o silêncio? Eu diria que no silêncio, nunca encontramos silêncio.
A mente não tem afinidade pelo silêncio, isso é fato. Também não tem afinidade pelo momento presente, caso contrário, não produziria tantos pensamentos como forma de escapar do aqui e agora. Se investigarmos o conteúdo dos pensamentos, chegaremos à conclusão de que eles só se relacionam ao passado ou ao futuro, nunca ao presente.
Para serem formados, os pensamentos precisam do conteúdo mental já existente, ou seja, o conhecimento. O que conhecemos são memórias de experiências já vividas e, obviamente, não refletem aquilo que aconteceu de fato, pois são formadas a partir de um ponto de vista parcial e tendencioso impregnado de cargas emocionais. Esse material distorcido é o referencial que usamos para reconhecer o momento presente. Observar o presente a partir desse referencial, portanto, anula a experiência do presente. É uma recriação do passado.
Sendo o conteúdo do pensamento o passado, onde mais o pensamento investe? No presente? Não, no futuro! Quando o pensamento não está mergulhado em suas crenças e opiniões, está direcionado ao futuro, criando expectativas, explorando situações para satisfazer seus desejos. A mente já encontrou no passado uma estrutura para classificar o que é bom ou ruim, certo ou errado; agora tem no futuro a esperança de satisfação. Se o conteúdo que usa já é distorcido, quanto mais aplicá-lo em uma situação incerta: o futuro. Enquanto isso, o presente continua esquecido.
Parece que não damos chance ao presente, não é? Já se deu conta de quanto tempo da sua vida você viveu realmente o presente? A nossa vivência no momento, recebendo informações pelos órgãos do sentido e tendo a experiência do sentimento, é rapidamente sobreposta pela atividade dos pensamentos, pelos movimentos do passado e do futuro. É disto que consiste o pensamento: da oscilação entre o passado e o futuro. Quando há essa oscilação, não há silêncio. É por isso que a mente não conhece o silêncio e não se sente confortável quando estamos chegando próximo dele.
No presente, não há essa oscilação. Não quando se está inteiramente presente. Sem oscilação, há silêncio e paz. Mas se olharmos para o presente a partir de onde estamos, a partir do referencial da mente apegada ao passado e ao futuro, não veremos possibilidade de paz, porque a nossa própria noção de paz é distorcida. O presente, portanto, nunca é bom o bastante para suprir os nossos anseios. Os objetos de satisfação estão no passado e no futuro, ou seja, nas miragens formadas na mente. No presente, só podemos encontrar o silêncio, e isso é tudo o que a mente quer evitar, pois representa a sua morte.
Mesmo assim, as pessoas buscam a meditação, buscam o silêncio; porque por experiência, comprovaram que não é na oscilação da mente que vão ter sossego. A vida já lhes mostrou que depender do exterior para ser feliz só leva à insatisfação. De algum modo, só vêem uma perspectiva de felicidade real e incondicional a partir da jornada interior. Buscando auxílio externo, ouvem falar da meditação. Mas uma ressalva: não leve a sua mente oscilatória para fazer meditação. Ela se agitará como um gato preso. Deixe os referenciais da mente - fontes de julgamentos e preconceitos - longe do ambiente de meditação. A experiência do momento presente é algo novo a todo instante e os pensamentos sempre ficam sobrando. Para haver silêncio, não há lugar para passado e futuro, certo ou errado. Para vivenciar o presente, é preciso abandonar os fardos do passado e do futuro para então relaxar.
Em resposta ao título "o presente não é bom o bastante?", entende-se que algo é bom quando gera satisfação. Satisfação a quem? Ao eu. Reconhecendo que esse eu é uma construção do passado em atividade rumo ao futuro, o presente não pode mesmo ser bom o bastante. Então deixo uma pergunta: este eu realmente sou eu?
Marco Moura
A mente não tem afinidade pelo silêncio, isso é fato. Também não tem afinidade pelo momento presente, caso contrário, não produziria tantos pensamentos como forma de escapar do aqui e agora. Se investigarmos o conteúdo dos pensamentos, chegaremos à conclusão de que eles só se relacionam ao passado ou ao futuro, nunca ao presente.
Para serem formados, os pensamentos precisam do conteúdo mental já existente, ou seja, o conhecimento. O que conhecemos são memórias de experiências já vividas e, obviamente, não refletem aquilo que aconteceu de fato, pois são formadas a partir de um ponto de vista parcial e tendencioso impregnado de cargas emocionais. Esse material distorcido é o referencial que usamos para reconhecer o momento presente. Observar o presente a partir desse referencial, portanto, anula a experiência do presente. É uma recriação do passado.
Sendo o conteúdo do pensamento o passado, onde mais o pensamento investe? No presente? Não, no futuro! Quando o pensamento não está mergulhado em suas crenças e opiniões, está direcionado ao futuro, criando expectativas, explorando situações para satisfazer seus desejos. A mente já encontrou no passado uma estrutura para classificar o que é bom ou ruim, certo ou errado; agora tem no futuro a esperança de satisfação. Se o conteúdo que usa já é distorcido, quanto mais aplicá-lo em uma situação incerta: o futuro. Enquanto isso, o presente continua esquecido.
Parece que não damos chance ao presente, não é? Já se deu conta de quanto tempo da sua vida você viveu realmente o presente? A nossa vivência no momento, recebendo informações pelos órgãos do sentido e tendo a experiência do sentimento, é rapidamente sobreposta pela atividade dos pensamentos, pelos movimentos do passado e do futuro. É disto que consiste o pensamento: da oscilação entre o passado e o futuro. Quando há essa oscilação, não há silêncio. É por isso que a mente não conhece o silêncio e não se sente confortável quando estamos chegando próximo dele.
No presente, não há essa oscilação. Não quando se está inteiramente presente. Sem oscilação, há silêncio e paz. Mas se olharmos para o presente a partir de onde estamos, a partir do referencial da mente apegada ao passado e ao futuro, não veremos possibilidade de paz, porque a nossa própria noção de paz é distorcida. O presente, portanto, nunca é bom o bastante para suprir os nossos anseios. Os objetos de satisfação estão no passado e no futuro, ou seja, nas miragens formadas na mente. No presente, só podemos encontrar o silêncio, e isso é tudo o que a mente quer evitar, pois representa a sua morte.
Mesmo assim, as pessoas buscam a meditação, buscam o silêncio; porque por experiência, comprovaram que não é na oscilação da mente que vão ter sossego. A vida já lhes mostrou que depender do exterior para ser feliz só leva à insatisfação. De algum modo, só vêem uma perspectiva de felicidade real e incondicional a partir da jornada interior. Buscando auxílio externo, ouvem falar da meditação. Mas uma ressalva: não leve a sua mente oscilatória para fazer meditação. Ela se agitará como um gato preso. Deixe os referenciais da mente - fontes de julgamentos e preconceitos - longe do ambiente de meditação. A experiência do momento presente é algo novo a todo instante e os pensamentos sempre ficam sobrando. Para haver silêncio, não há lugar para passado e futuro, certo ou errado. Para vivenciar o presente, é preciso abandonar os fardos do passado e do futuro para então relaxar.
Em resposta ao título "o presente não é bom o bastante?", entende-se que algo é bom quando gera satisfação. Satisfação a quem? Ao eu. Reconhecendo que esse eu é uma construção do passado em atividade rumo ao futuro, o presente não pode mesmo ser bom o bastante. Então deixo uma pergunta: este eu realmente sou eu?
Marco Moura
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