Da Comparação, o Conflito
Uma situação cotidiana simples: o despertador toca, é hora de acordar! Surge o conflito: de um lado, o dever de levantar-se e fazer as tarefas do dia; do outro lado, a cama tão aconchegante. Antes do despertador ter tocado, tudo estava tão bem: a situação era confortável e você estava adaptado a ela. De repente, surgiu uma nova realidade que exigiu outra atitude com a qual você ainda terá de adaptar-se. A adaptação não parece ser algo cômodo, pois exige certo esforço. O esforço em si não é algo ruim, mas assim o tornamos ao criar um comparativo com o não-esforço, classificando-o como a alternativa não favorita.
Dificilmente você verá uma pessoa dizer com sinceridade que é plenamente satisfeita. A vida é cíclica e a mente tem dificuldade em aceitar mudanças. Cada momento é um novo momento. Se não estivermos presentes em determinado momento, estaremos vivendo uma ilusão. Se entre um momento e outro houver uma brecha de atenção, não estaremos presentes e a mente se porá a vaguear nos pensamentos. Quando existem dois momentos distintos na nossa mente, existe a comparação. A comparação favorece um dos lados e repudia o outro. Os resultados da comparação são desastrosos, pois o momento presente é único e não existe outra opção além dele. Qualquer outra alternativa que surja só pode gerar uma briga entre uma condição ideal e outra não ideal. O ideal é algo que fere o contentamento no momento presente.
O momento presente é sempre digno de ser aceito sem restrição? Podemos supor que caso não haja um ideal a ser almejado, nunca nos desenvolveremos e permaneceremos estacionados. Certamente, há condições mais favoráveis que podemos visualizar e nos esforçar para atingir. O ponto é que no processo entre a situação atual e a situação almejada, nós criamos conflitos devido à comparação, ao julgamento e à impaciência. Veja que entre os dois momentos existe uma linha de tempo que deve ser respeitada. É como a vida humana: existe o nascimento, crescimento, velhice e morte. Cada etapa tem o seu tempo e está ok ser assim. Contudo, se as crianças anseiam por ser gente grande e os adultos ressentem-se por não serem mais jovens, a comparação e o julgamento estão envolvidos e existe uma angústia. A vida é uma só: seja criança, seja adulto ou ancião, a vida que está sendo vivida é a mesma. Não faria sentido nenhum pular qualquer das etapas.
O mesmo acontece com qualquer situação do cotidiano que envolva o aprendizado. Os iniciantes frequentemente sentem-se insatisfeitos com sua situação cheia de dificuldades. Porém, mesmo os grandes mestres passaram pela mesma condição de serem iniciantes. Faz parte dessa fase cometer erros, não ter muito jeito e agir incorretamente. Se não cometesse erros nessa fase, o mestre nunca poderia alcançar a mestria, pois a inabilidade é a condição para que surja a habilidade, da mesma forma que o pequeno é a condição para que surja o grande ou que o soldado é a condição para que se desenvolva um general. Não dá para pular etapas. Somente porque o soldado visualiza a posição do general é que ele se sente inferior, sem se dar conta de que o general é o resultado de um bom soldado.
O desenvolvimento é algo que acontece naturalmente quando estamos engajados em cada momento que surge. Quando a criança é imatura e erra, está ok, pois faz parte do seu momento. Chegará um dia que ela irá tirar lições dos seus erros e aprenderá. Nesse momento mais maduro, não fará mais sentido cometer os mesmos erros, então ela avançará. Assim acontecerá por toda a vida. A pessoa cresce e suas roupas antigas deixam de servir. A vida é um processo, é um longo caminho onde cada etapa é ok do jeito que é e não faz sentido nenhum almejar algo fora disso.
A insatisfação que existe é resultado da lógica dualista da mente. O prazer da mente depende da dualidade, pois ela estabelece uma situação que classifica como boa, bela ou certa e outra como ruim, feia ou errada. Sempre que o indivíduo marcar pontos com a situação boa, terá prazer; do contrário, terá infelicidade. Portanto, o grande empecilho para desfrutar o momento presente do jeito que é não é necessariamente conceber uma nova condição, mas criar uma comparação discriminatória e desconhecer a importância de cada momento como parte de um processo maior. Tudo está ok dentro do momento apropriado. Até mesmo essa inquietação imatura faz parte do seu momento, até que deixe de fazer sentido.
Marco Moura
Dificilmente você verá uma pessoa dizer com sinceridade que é plenamente satisfeita. A vida é cíclica e a mente tem dificuldade em aceitar mudanças. Cada momento é um novo momento. Se não estivermos presentes em determinado momento, estaremos vivendo uma ilusão. Se entre um momento e outro houver uma brecha de atenção, não estaremos presentes e a mente se porá a vaguear nos pensamentos. Quando existem dois momentos distintos na nossa mente, existe a comparação. A comparação favorece um dos lados e repudia o outro. Os resultados da comparação são desastrosos, pois o momento presente é único e não existe outra opção além dele. Qualquer outra alternativa que surja só pode gerar uma briga entre uma condição ideal e outra não ideal. O ideal é algo que fere o contentamento no momento presente.
O momento presente é sempre digno de ser aceito sem restrição? Podemos supor que caso não haja um ideal a ser almejado, nunca nos desenvolveremos e permaneceremos estacionados. Certamente, há condições mais favoráveis que podemos visualizar e nos esforçar para atingir. O ponto é que no processo entre a situação atual e a situação almejada, nós criamos conflitos devido à comparação, ao julgamento e à impaciência. Veja que entre os dois momentos existe uma linha de tempo que deve ser respeitada. É como a vida humana: existe o nascimento, crescimento, velhice e morte. Cada etapa tem o seu tempo e está ok ser assim. Contudo, se as crianças anseiam por ser gente grande e os adultos ressentem-se por não serem mais jovens, a comparação e o julgamento estão envolvidos e existe uma angústia. A vida é uma só: seja criança, seja adulto ou ancião, a vida que está sendo vivida é a mesma. Não faria sentido nenhum pular qualquer das etapas.
O mesmo acontece com qualquer situação do cotidiano que envolva o aprendizado. Os iniciantes frequentemente sentem-se insatisfeitos com sua situação cheia de dificuldades. Porém, mesmo os grandes mestres passaram pela mesma condição de serem iniciantes. Faz parte dessa fase cometer erros, não ter muito jeito e agir incorretamente. Se não cometesse erros nessa fase, o mestre nunca poderia alcançar a mestria, pois a inabilidade é a condição para que surja a habilidade, da mesma forma que o pequeno é a condição para que surja o grande ou que o soldado é a condição para que se desenvolva um general. Não dá para pular etapas. Somente porque o soldado visualiza a posição do general é que ele se sente inferior, sem se dar conta de que o general é o resultado de um bom soldado.
O desenvolvimento é algo que acontece naturalmente quando estamos engajados em cada momento que surge. Quando a criança é imatura e erra, está ok, pois faz parte do seu momento. Chegará um dia que ela irá tirar lições dos seus erros e aprenderá. Nesse momento mais maduro, não fará mais sentido cometer os mesmos erros, então ela avançará. Assim acontecerá por toda a vida. A pessoa cresce e suas roupas antigas deixam de servir. A vida é um processo, é um longo caminho onde cada etapa é ok do jeito que é e não faz sentido nenhum almejar algo fora disso.
A insatisfação que existe é resultado da lógica dualista da mente. O prazer da mente depende da dualidade, pois ela estabelece uma situação que classifica como boa, bela ou certa e outra como ruim, feia ou errada. Sempre que o indivíduo marcar pontos com a situação boa, terá prazer; do contrário, terá infelicidade. Portanto, o grande empecilho para desfrutar o momento presente do jeito que é não é necessariamente conceber uma nova condição, mas criar uma comparação discriminatória e desconhecer a importância de cada momento como parte de um processo maior. Tudo está ok dentro do momento apropriado. Até mesmo essa inquietação imatura faz parte do seu momento, até que deixe de fazer sentido.
Marco Moura
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