Empregando a energia vital

Qì (leia-se tchi) é o nome dado pelos taoistas à energia vital que rege a vida no universo, tendo sido reconhecida por diversos povos ao longo da história e, atualmente, pela física quântica. Referindo-se à energia do ser-humano, o taoismo fala sobre três tesouros do homem: jing (energia essencial), (energia vital) e shen (energia mental). Na realidade, são aspectos da mesma energia. O que chama a atenção é ver como em essência, é uma coisa só: energia e, portanto, não há separação real entre corpo, mente e espírito. Eles estão integrados porque eles próprios são energia.

A energia vital é uma preciosidade. A partir dela, nos movemos, pensamos, sentimos e o nosso organismo funciona. Obviamente, ela pode ser bem ou mal empregada. A energia vital é um recurso que temos para criar o nosso presente. Mobilizando-a através da nossa intenção mental, investimos em certa direção, transformando a nossa mente a cada momento. A cada ação investida, novas sementes vão sendo plantadas e vamos determinando quem somos. Alimentando padrões comportamentais inconscientes, essa energia vai sendo escoada em vão, nossos hábitos automáticos vão ficando mais enraizados e escravizadores. O passado vai sendo recriado a partir de antigos padrões em um ciclo contínuo. Quais são os resultados? Pensamentos que geram caos e furtam a clareza, o foco e a memória. Emoções reativas que geram toxidade energética, ansiedade e angústia. Tudo isso só reforça o ego inferior, que é algo morto, incapaz de vivenciar o presente.

Para trabalhar a energia mental, é preciso reconhecer o seu fluxo contínuo. A energia das emoções e pensamentos surge espontaneamente frente ao que estivermos vivenciando. Ao surgir, provoca um desequilíbrio energético de menor ou maior intensidade que deveria ser rapidamente restabelecido em uma mente saudável. Acontece que a mente indisciplinada coloca ainda mais energia em cima disso, tornando aquele pequeno desequilíbrio um caos de pensamentos dispersos e emoções confusas, como se fossem várias camadas que vão encobrindo a luz do discernimento. Ao invés de observar a realidade como é, a mente perde clareza e apega-se às aparências ilusórias sem perceber o seu mecanismo reativo frente à imagem psicológica que reproduz - uma realidade pronta, sem história, sem contexto e, sobretudo, desconexa do presente.

Todos temos a capacidade de estabilizar a mente e isso depende do emprego correto da nossa energia psíquica, vivenciando o presente com uma mente livre. É necessário esvaziar-se da soberania do ego, que na verdade são mecanismos consumidores de energia que roubam o nosso recurso e com ele fabricam entulhos energéticos. Não é interessante que sem percebermos, a mente alimenta o próprio caos? Mais interessante é constatar que tudo está em constante transformação, o que nos abre a possibilidade de criarmos a nossa realidade, não passivamente a partir de nossos condicionamentos automáticos, mas de modo pró-ativo, de acordo com a nossa determinação. A chave para isso está no investimento apropriado do nosso recurso primordial: a energia vital.

Marco Moura

Comentários

Julio disse…
Este comentário foi removido pelo autor.
Julio disse…
Excelente texto Marco!!!

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