Cultura da Saúde Casual

O modo como as pessoas lidam com a saúde tem estreita relação com a estrutura de valores da sociedade. Um dos pontos que revelam como a sociedade tem uma noção precária sobre a saúde é a forma de lidar com a doença como algo casual (originado pelo acaso) e não causal (originado por uma causa). Infelizmente, muitos médicos reforçam essa ideia.

O nosso modo de vida é baseado na cultura capitalista de supervalorização material. Nós nos esforçamos para poder pagar por aquilo que desejamos, que por sua vez é aquilo que a sociedade valoriza. Os nossos desejos são estimulados para que compremos cada vez mais e sustentemos a sua economia. O que tem prioridade em nossos orçamentos são os produtos que nos trazem satisfação temporária e adequação social. A saúde só é lembrada quando chega a doença, por isso, saúde e doença são inseparáveis dentro dessa mentalidade. Quando surge uma doença, tendemos a crer que ela vem por acaso, como um acontecimento isolado que devesse ser erradicado rapidamente. Automaticamente nos voltamos para eliminá-la, sem nem questionarmos o porquê de sua origem, nem avaliarmos a nossa parcela de responsabilidade no seu desenvolvimento.

Em várias culturas de origem antiga e ligadas à natureza, sabe-se que a doença tem um significado importante e reflete o tipo de vida da pessoa. A doença é um somatório de falhas que se acumulam com o tempo, aliadas à pré-disposição genética, de modo que o doente tem um papel ativo nesse acontecimento. Por isso, seus hábitos, comportamentos e padrões de vida devem ser adequados a uma vida saudável. Ou seja, se quer saúde, seja saudável; se quer amor, seja amoroso; se quer prosperidade, seja próspero. Tudo acontece por um processo natural de causa e efeito. Em certas culturas, esse conceito está embutido e por isso, cultivam a saúde.

Na sociedade atual, a saúde é esquecida, o corpo é maltratado para suprir um ritmo exaustivo, os potenciais humanos ficam embotados, os sentidos mal direcionados e os valores deturpados. Tudo conspira contra a saúde. É urgente que a sociedade restabeleça o entendimento da interdependência entre causa e consequência. Isso se faz por uma transformação na maneira de encarar a saúde. É responsabilidade de cada profissional de saúde ser um agente nessa revolução: ser um educador, um líder formador de opinião, um defensor da prevenção. A concepção do holismo é fundamental na formação dos profissionais de saúde - não como um tema à parte, mas inerente à própria compreensão do que é saúde.

Marco Moura

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