Wu-Wei - A Verdadeira Ação

Um dos conceitos marcantes da filosofia do Dào de Lao Zi é o Wu-Wei (无为), traduzido como não-ação, ação sem intenção ou ação espiritual. Significa abster-se de agir por interesses egoístas para agir em uníssono com a natureza. É a atitude do dia-a-dia impulsionada pela sabedoria intuitiva, sem interferência da mente discriminatória.

Na sociedade, somos movidos a nos destacarmos dos demais, conquistarmos um padrão elevado, enquadrarmos aos costumes convencionais, consumirmos produtos luxuosos e tantas outras ações impregnadas pela impulsividade inconsciente. Incorpora-se desejos que não são mais do que a mente ilusória querendo buscar no exterior algo para suprir uma insatisfação interior. Insatisfação essa que não é inata, mas nascida da falta de discernimento. Essa é a ação do ego, produto da mente, e não uma ação pura e natural.

Se abandonarmos a mente dominadora e nos libertarmos dos desejos supérfluos do ego, o que nos move? Simplesmente acontece! Sem a ideia de um "eu" separado do todo, nos unimos à natureza e o que nos move então é a mesma força que balança as folhas das árvores e as faz dançar ao ritmo da existência. Somos movidos pelo sopro de vida. Enquanto a soberania da mente nos torna robôs automáticos, o Wu-Wei nos torna singelos, pois a verdadeira força motriz é natural e seu fluxo é harmonioso. Chove quando é hora de chover e venta quando é hora de ventar. Assim se tornam as nossas ações: simples e naturais.

Wu-Wei não é Comodismo

Não se deve confundir "não-ação" com negligência. A natureza age pela não-ação. Um tigre caça a sua presa porque é de sua natureza caçar; essa é a sua não-ação. É natural haver uma força que nos impulsiona a alcançar nossos objetivos. Se por preguiça ou comodismo deixamos de ir atrás, então o ego está agindo e deixa de ser wu-wei. A questão é fazer as coisas sem apego e sem artificialidade, aceitando o curso natural da ação.

Não há fórmulas para descobrir se devemos ou não agir. Na verdade, só existe "dever" na mente, que tenta interferir nos processos naturais. A não-ação é algo intuitivo e espontâneo, então quanto mais natural o comportamento, mais perto está da não-ação. Essa naturalidade e espontaneidade é o que muitos espiritualistas chamam de agir com o coração. Quando agimos com o coração, agimos em harmonia com o Universo e, portanto, no momento adequado. O que acontece é que muitas vezes achamos que agimos com o coração quando na verdade é a mente passional que está agindo. É comum confundir a paixão da mente com o amor do coração. Agir com o coração livre não cria expectativas, portanto o que acontecer a partir disso passa a ser aceito naturalmente. Do ponto de vista da totalidade, não há frustração.

Fazemos parte da natureza e as nossas ações trazem consequências positivas ou negativas para nós mesmos e para o meio. Temos autonomia para usarmos o nosso livre-arbítrio, mas para que o resultado seja positivo, é preciso que seja consciente. O importante de nossas ações é que possamos nos sentir em paz e felizes com nós mesmos. Quanto mais ampliamos a percepção da nossa realidade, mais nos sentimos conectados com o todo. Consequentemente, o que beneficia o mundo beneficia a nós mesmos. Pode até parecer utópico e ingênuo, mas é o que acontece quando a consciência se torna integrada. Não existe nenhum mal além do que criamos em nossas mentes e nenhuma ação que supere a virtude da não-ação.

Marco Moura

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