Mente Ecológica
A vida na natureza é deslumbrante em toda a sua diversidade e na dinâmica entre os diversos reinos: o mineral, vegetal, animal… Mas o que acontece com o hominal, que parece tiranizar os outros reinos? Dotado de autoconsciência, o homem é o ser que exerce domínio sobre a natureza para benefício próprio, resultando a longo prazo, em seu próprio desastre. A falta de uma consciência ecológica é, fundamentalmente, o reflexo da falta de uma ecologia interna.
Olhamos com espanto para a capacidade destrutiva do homem quando o mesmo agride a natureza, mas se considerarmos o modo como lidamos com o nosso mundo interno nas atitudes mentais do dia a dia tão comuns a todos nós, não haverá razão para se surpreender – o que fazemos no exterior é apenas um reflexo. A raiz do problema chama-se ignorância.
A ignorância é um processo de fragmentação, de desconsiderar a totalidade e se apegar ao aspecto parcial. A ignorância se converte em um despreparo para a vida coletiva. Aquele que vive apenas para si, cuja atuação acarreta prejuízo a longo prazo para o meio, vive em ignorância por não compreender o mecanismo de causa e efeito. Não consegue enxergar quando sua ação tem como consequência a degradação. Por ignorância, as pessoas se acham superiores à lei natural, consideram suas opiniões soberanas e menosprezam perspectivas integrativas. Literalmente, o indivíduo se fecha em um mundo ilusório. O resultado da ignorância em nossa personalidade é o ego.
O ego é um fragmento da consciência totalitária. Quando o indivíduo se identifica com seus aspectos racionais e conscientes, com os aspectos dualistas e opinativos daquilo que é bom ou ruim, ele deixa de considerar o todo. Esquece que a luz cria a sombra, que o alto depende do baixo, que o consciente depende do subconsciente. A degradação que criamos em nosso subconsciente é imensa. E não percebemos isso até que os dejetos se acumulem em forma de crises psicológicas e patológicas. Trata-se do acúmulo da degradação do ambiente interno.
A ignorância induz a um regime ditatorial do dominante sobre o todo. Quando os desejos do ego são expressos sem levar em conta suas implicações viciosas, temos os desequilíbrios psíquicos. Quando a ação desproporcional do ego sobressai sobre as necessidades fisiológicas do corpo, temos a doença. Enfim, ao nos identificarmos com uma das partes, induzimos a soberania dela sobre o todo. O reflexo disso é o homem se impondo sobre a mulher, o chefe sobre os subordinados, o ser humano sobre a natureza, o instinto sobre a ética, o consciente sobre o subconsciente. O resultado natural são os dejetos que, a longo prazo, se convertem em grandes males coletivos. Com uma visão holística de como a parte afeta o todo e de como o interior se reflete no exterior, podemos olhar de forma mais compassiva ao todo orgânico onde vivemos e adaptar nossa ação para colhermos bons frutos.
Marco Moura
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